Projeto

 
O Encontro de Tocadores é um evento de três dias que junta tocadores de instrumentos tradicionais de gerações distintas. Através dos tocadores convidados, que são na sua maioria “símbolos” de um saber que se esgota, fomenta-se a partilha de reportórios e técnicas instrumentais de Portugal e da Galiza e perpetua-se a importância do “saber tocar de ouvido”, a aprendizagem da música sem pautas. 
 
Em encontros informais, os participantes têm a possibilidade de partilhar conhecimentos e explorar métodos de tocar tradicionais. Espera-se contribuir para a salvaguarda do património imaterial musical de várias regiões de Portugal, em particular do Minho, em diálogo com a região da Galiza, explorando o contexto transfronteiriço historicamente relevante dos territórios.

O Encontro abrange sessões de trabalho entre músicos (oficinas de instrumentos), uma oficina de danças tradicionais, palestras, uma feira de construtores de instrumentos e editoras musicais assim como concertos e bailes no espaço público. Em qualquer das expressões que assuma na sua programação, o Encontro de Tocadores pretende constituir-se como um espaço gerador de discursos e reflexões sobre as práticas musicais do território galaico-português.

O formato do evento consiste numa série de oficinas de aprendizagem, com a presença de tocadores de vários instrumentos (na sua maioria, músicos rurais, envelhecidos, dedicados a práticas musicais em declínio) e um “pivot” (responsável por facilitar a dinâmica da oficina e a troca de informação entre o tocador antigo e a assistência). A escolha do “pivot” será criteriosa, devendo este conhecer o enquadramento da formação e possuir experiência como facilitador de dinâmicas de grupo. Por fim, a assistência das oficinas será constituída por jovens músicos que tencionam aprender técnicas e repertórios de instrumentos “tradicionais”, procurando renová-los, experimentá-los e inseri-los em novas práticas musicais, sem intenções “fossilizadoras” ou discursos imobilistas de identidade regional ou nacional. Para além destas oficinas, o Encontro inclui palestras com temas específicos e oradores convidados (músicos, tocadores académicos, etc.), exposições, concertos, projeção de filmes e documentários, bailes noturnos à volta de “jam sessions” dos vários músicos presentes.

Tudo isto, com vista a gerar uma interação entre músicos e não-músicos de várias gerações e proveniências. Através das práticas musicais, gera-se maior riqueza na descoberta de instrumentos, repertórios e, sobretudo, numa reflexão implícita sobre quem somos e para onde vamos, através da música. A primeira fase de trabalho do Encontro irá consistir na pesquisa e estabelecimento de contatos com tocadores de instrumentos tradicionais, detentores de conhecimento de repertórios tradicionais, especialmente oriundos da zona do Minho e Galiza. O intuito é que possam dinamizar as oficinas de instrumentos, partilhando repertórios e técnicas.

Paralelamente, procurar-se-á estabelecer contacto com construtores de instrumentos, passíveis de integrar a feira e orientar formações relativas à sua arte. Serão também contactados grupos de música e baile tradicional, que irão dinamizar as atividades noturnas.

A edição de 2019 assinala o sexto ano deste Encontro em parceria com o Município de Caminha. Ao ser realizado fora de um grande centro urbano, este projeto tem também como ideia subjacente a importância da descentralização da cultura e a valorização do meio interior não urbano.

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A rosácea, no seu auge, foi um elemento arquitetónico ornamental usado em edifícios religiosos do final da idade média. Em consonância com o espírito deste período artístico, a rosácea transmite, através da luz e da cor, o contacto com a espiritualidade e a partilha do conhecimento, que caraterizaram a transição artística para a modernidade. Na Igreja Matriz de Caminha está patente essa confluência de ascendências artísticas. Nela trabalharam mestres galegos e portugueses influenciados por uma variedade imensa de precedências estéticas. Todos os aspetos culturais terão usufruído desse vínculo de ligação entre as duas margens do rio Minho. Os elos que se entrelaçam na rosácea-óculo da fachada principal deste monumento sugerem-nos também essa ideia em relação ao futuro. Por esse motivo foi adotada a sua forma básica para a criação do logótipo que identifica o evento Entre Margens – Encontro de Tocadores que se realiza anualmente em Caminha.

Vivemos num período de mudanças profundas no âmbito das práticas musicais tradicionais. Devido à transformação dos meios de produção, à migração para os meios urbanos ou à desertificação e envelhecimento dos meios rurais, assim como ao aparecimento de novas formas, mais imediatas, de entretenimento, a perpetuação das tradições musicais galaico-portuguesas está em risco. Apesar disso, habitamos um território ainda particularmente rico nestas formas de expressão, onde residem tocadores tradicionais detentores de conhecimentos e técnicas que perpetuam o legado das gerações antigas, e que por outro lado são cada vez menos dominadas pelas novas gerações. Para além do seu interesse histórico, social e etnográfico, estas práticas são um reflexo de como vivem os seus indivíduos, quem são, de onde vieram e para onde vão. É necessário preservá-las mas especialmente integrá-las novamente no quotidiano das comunidades, reinventando formas e alterando perspectivas.

O ENCONTRO DE TOCADORES, como o nome indica, pretende essencialmente ser um espaço de encontro e de transmissão de conhecimentos, para a aprendizagem partilhada entre todos os intervenientes. Acreditamos que viver as tradições é a única forma de as preservar e revitalizar, garantindo que a música se renove, que os bailes prevaleçam, que as populações se aproximem e se encontrem, para além das fronteiras, consigo próprias e com o seu passado, apesar das transformações frenéticas e constantes da contemporaneidade.

 
  • A salvaguarda, a divulgação e o incentivo à revitalização do património musical português e galego e respectivos instrumentos musicais;
  • A promoção dos mesmos junto das novas gerações de músicos;
  • A perpetuação das relações de proximidade históricas e culturais entre o Minho e a Galiza, através dos tocadores das duas margens;
  • A partilha de reportórios e técnicas entre tocadores e músicos de diferentes gerações, permitindo que os últimos os adaptem e incluam em trabalhos futuros;
  • A geração de conhecimentos e inovação de interpretações, possibilitados pela partilha presencial;
  • O ir além dos registos e das recolhas, possibilitando uma real integração do tradicional no contemporâneo, de forma a perpetuar o património musical imaterial de Portugal e da Galiza.
  • A valorização das histórias de vida dos tocadores mais antigos, indo ao encontro do seu ambiente, levando-os a partilhar as suas vivências e experiências.
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